*Este é um artigo de opinião,
portanto nele estão contidas minhas impressões, fiquem a vontade para discordar
ou
concordar para que possamos gerar uma discussão sobre o assunto e uma
reflexão.
Gyaru: Antigamente x Atualmente
Se você acompanha o site
Galaxy109 deve ter se inteirado da atual situação dos Gyaru-o nesta matéria: “O fim dos Gyaru-o?”. Isto me fez partir para uma reflexão sobre o estilo Gyaru, como andamos? Gyaru
passou por altos e baixos, tivemos praticamente uma extinção do estilo Mamba e
Ganguro e uma “evolução” do estilo. Não muito distante, uma das maiores
revistas gyaru saiu de circulação, a PopSister, será que o estilo também está ameaçado?
Não sei, provavelmente não, outras revistas também haviam sido cancelas antes (como pode verificar aqui), mas o certo é que o gyaru está passando novamente
por uma mudança, e quais seriam elas?
Gyaru já esteve muito mais ligado
ao estilo de vida. “Gals have for fun”
era o lema de diversas garotas que bronzeavam a pele e iam a Shibuya encontrar
seus galcirs* para dançar Para-Para.
As batidas do eurobit estavam incluídas
na cultura gyaru. A maioria das meninas que não queriam se graduar em gyaru
acabava indo para empregos em salões de beleza ou modelagem, pois o estilo era
a vida delas. Outras mais populares fundaram grifes de roupas, maquiagem e/ou
cosméticos.
Angeleek era um dos maiores e mais influenciadores galcirs antigamente
A revista PopSister que contava com modelos como Tsubasa Masuwaka e Nana Suzuki foi cancelada
Mas o estilo mudou e com eles os
costumes, estilos mais extremos como Agejo e B-Gal (alguns afirmam que estas
não se consideram gyarus, mas um estilo a parte *carece
de fontes) se afastaram, sendo praticamente um subcultura a parte das
gyarus. Foi permitida a pele clara, os traços dos olhos ficaram mais finos, a
nail art em boa parte se perdeu, fora tantas outras alterações e coisas que
deixaram de ser obrigatórias. Então entraram em cena os estilos mais casuais. A
Ageha e EGG talvez sejam as únicas a ainda manter um pé nos estilos mais
extremistas (Porém, até mesmo a Egg não é a mesma). Mas e a cultura? A
diversão? Eu particularmente acredito que o estilo passou para um lado muito
mais consumista e de mercado do que um estilo de vida, se antes para ser gyaru
tínhamos que entrar em um circle, até mesmo aprender a dançar para-para e sair
com as amigas sem se importar a hora de voltar para casa, agora gyaru se fincou
como uma moda, com transições e sem amarras de personalidade. Gyaru deixou de
ser um estilo de se vivenciar para se transformar em um estilo apenas um estilo
de vestir. Veja bem, não quero dizer com isto que usar gyaru não tenha um
reflexo no nosso modo de agir, apenas que aquele comportamento esperado não é
mais obrigatório. O artigo traduzido do Gyarupoyo
traz exatamente este tipo de questão, leia aqui.
EGG da época da Buriteri (1999) e EGG de novembro de 2013 - Nem parece a mesma revista não é mesmo?
Se observarmos as revistas gyarus
mais recentemente, constataremos uma cada vez maior de inserção de outros
estilos dentro do gyaru. Como falei no meu post passado, há uma inserção maior
da moda coreana,
por exemplo, o puffy eyes. E claro, uma grande absorção do estilo americano,
assim como as californianas influenciaram bastante o estilo no início, hoje o
american street fashion continua a inspirar o gyaru, assim como toda moda
mundial. Essa incorporação de estilos tornou o gyaru mais rico e complexo, mas
também contribuiu para certa perda de identidade.
Identidade esta que o galcir
Black Diamond, com suas Kuro Gyarus tentam reaver. A idéia da pele bronzeada,
se apoiar numa grife (a D.I.A.), num estilo mais específico (o Rokku) e ter
apoio de revistas (a EGG e Soul Sister), vem ajudando a esta subcultura ganhar
novamente força.
O Galcir Black Diamond conta com membros não apenas japoneses, mas de 20 países diferentes
A revista Soul Sister traz um gyaru muito diferente das revistas atuais
O grande problema que vejo no
estilo gyaru atual é que ele vem se tornando diluído, o que dificulta uma
rápida percepção do “o que é gyaru?”. Revistas que antes tinham grande
quantidade de gyarus como modelos, como a Vivi e Blenda, se tornam tão casuais
que por muitas já estão sendo desconsideradas como exemplos do estilo. É claro
que isto não é de todo um problema, afinal, quanto mais casual mais fácil de
ser adaptado e mais fácil de ser encontrado, porém, como um estilo não tão
regrado quantos os de Harajuku, a coordenação correta é mais difícil.
Um ponto muito interessante na
entrevista do Uetake é quando ele aponta que os jovens deixaram-se de se reunir
em Shibuya e ela perdeu seu atrativo, que era justamente aqueles jovens
reunidos. E ele ainda aponta que as relações virtuais ajudaram para que isso
acontecesse. Isto me fez lembrar no início da divulgação do Gyaru no Brasil, a
Caramel, apontava que gyaru não era “estilo de internet” era para se sair, usar
na rua, não para fotos e ser elogiada por pessoas virtuais. Temo que estejamos
perdendo, ou se não já perdemos, essa conscientização sobre o estilo.
Para mim gyaru não vai acabar,
não ainda, mas vai mudar, novamente. Os estilos mais extremos vão se afastar
ainda mais, quase se tornando uma cultura a parte, e o restante irão se a
readaptar as modas atuais, a ponto de que algumas não as considerem mais como
Gyaru de fato. Apesar de que isto não é bem uma previsão, é quase uma
constatação como demonstrou a Lara no artigo “Vida de Gaijin”.
Espero que nós, estrangeiras, Gaijins, ajudem a manter o estilo vivo.
E para você, quais são suas opiniões? Essas mudanças a agradam? Tem algo que discorde? Não deixe de comentar.
Leia também o artigo do
Universal-Doll (em inglês).
*Galcir
ou Galcircle: Ao pé da letra: Círculo Gyaru e se refere a grupos fechados de
gyarus, um dos mais famosos galcirs foi o Angeleek. Atualmente o maior e mais famoso é o
Black Diamond.